Tentou acordar cedo, mas não conseguiu porque o despertador não tocou.
Tentou se alimentar bem, mas diante do tempo escasso pegou somente um iogurte. Fez o breakfast no elevador, enquanto abotoava a camisa.
“Maldita vizinha do 904 que fica me olhando esquisito só porque estou comendo e arrumando a roupa no elevador”. Tentou compensar o tempo driblando o trânsito que estava infernal, como sempre, mas acabou se atrasando para uma reunião importante.
“Maldito prefeito que não tem programas efetivos para resolver esta bagunça!” Tentou avisar sobre o atraso ainda do trânsito, mas o celular estava sem sinal. “Maldita operadora que é a campeã em queixas na ANATEL!” Tentou, ao chegar, pedir desculpas pelo atraso, mas como os convidados eram muito rígidos, pela cara que fizeram, não aceitaram.
“Malditos clientes! Acaso são ingleses? Por que têm tanta obsessão por pontualidade?” Tentou almoçar com a nova namorada, mas o chefe o prendeu no escritório em uma conversa interminável sobre um tal novo projeto. Acabou não ligando com antecedência para ela. Tentou explicar-se para ela após receber as 18 mensagens desaforadas que chegaram de uma só vez, mas não teve muito resultado.
“Maldita namorada! Como pode ser assim tão nervosa?” Tentou ir às 19:00h ver a estreia do balé da filhinha, mas o trânsito estava caótico de novo e acabou chegando às 21:00. Tentou pedir desculpas dizendo que no final de semana sairia com a menina, iriam ao cinema e etc e tal, mas o olhar silencioso da garota, lacrimoso, mostrou que nada poderia compensar aquela ausência do pai em seu show da escola de dança.
“Maldita ex-mulher! Deve estar fazendo a cabeça da menina para que não goste de mim!” Tentou ir à academia treinar e suar um pouco, liberar-se do stress. Mas após um dia desses, horroroso, o melhor seria tomar uma chuveirada e cair na cama.
“Maldito dia!” Tentou dormir cedo, mas não conseguiu por causa da preocupação acerca das responsabilidades com o novo projeto que teria que assumir a partir do dia seguinte, com poucos recursos e equipe pequena.
“Maldita seja a situação econômica do país que não permite à empresa a contratação de mais profissionais para me ajudarem nesse novo empreendimento!”
E assim ele vai construindo seus dias…
Enfim, durante toda a vida, ele está tentando ser feliz. Mas como isso é possível quando se tem tantos “malditos” ao redor?
Quando alguém não considera que as escolhas de contato com o mundo são suas, acaba vivendo com muitas explicações e pouquíssimas construções. Quem se coloca fora do problema, igualmente não se percebe capaz de promover a solução, e pode receber o diagnóstico de uma doença conhecida por TCR (Terceirização de Culpas e Responsabilidades).
Tentar nunca será fazer, bem como lamentar e amaldiçoar nunca trará o tempo perdido de volta. Se você, mesmo que em parte, se identificou com o personagem descrito, que tal começar a pensar sobre como fazer sua vida acontecer de uma maneira diferente?
Lembre-se: acomodados encontram desculpas, e realizadores encontram caminhos.
Kau Mascarenhas
Kau Mascarenhas é palestrante e escritor, tem formações completas em Coaching e em PNL, é consultor e professor em diversas áreas do desenvolvimento humano. É sócio diretor do Instituto Kau Mascarenhas, autor do livro “Mudando Para Melhor”, editora Best Seller.
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