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Quem sofre com enxaqueca pode fazer exercícios físicos?

Não é segredo para ninguém que a prática de atividade física estimula a liberação de analgésicos opioides próprios do nosso organismo, neurotransmissores relacionados ao bem estar e endocanabinóides relacionados ao estresse. Com isso, há ativação de um sistema importante do nosso corpo chamado de via descendente no controle da dor, levando a uma hiperalgesia induzida pelo próprio exercício. Infelizmente, muitas pessoas só se lembram disso após passar por um período de muita dor, seja dor na cervical, trapézios, ombros ou crises importantes de dor de cabeça.

É geralmente nesta fase que a maioria das pessoas buscam o apoio de um profissional neurologista ou outro especialista em dor, para o tratamento da enxaqueca ou outro tipo de cefaleia primária.

A enxaqueca é uma doença crônica, de base genética e que possui características específicas e cujo diagnóstico é exclusivamente clínico. Normalmente apresenta-se como uma dor em um dos lados da cabeça, porém pode estar presente na nuca, no pescoço, nos ombros ou atrás dos olhos, e que vem acompanhada de náuseas e/ou vômitos, fotofobia e intolerância ao barulho.

Maria Clara Carvalho, Neurologista, Especialista em dor

Diversos estudos já argumentaram que as dores de cabeça primárias, especialmente dores de cabeça do tipo tensão e enxaqueca, apresentam mecanismos de sensibilização central, e periférica, que são fenômenos encontrados em inúmeras condições de dor crônica e que possuem o exercício, como um dos principais pilares para o tratamento.

Assim como outras doenças crônicas, a enxaqueca deve ser abordada de forma multidisciplinar e a depender do caso, pode requerer o apoio de estratégias medicamentosas, além das estratégias não medicamentosas envolvidas com a saúde de um modo geral: melhora na qualidade do sono, lazer, bem-estar, ingestão de água e alimentação equilibrada.

Atenção aos gatilhos!

Segundo a Mayo Clinic, portadores de enxaqueca conseguem identificar situações, comportamentos ou ambientes que podem desencadear um novo episódio de enxaqueca. Esses fatores são chamados de gatilhos e alguns dos gatilhos comumente referidos pela literatura também podem ser prevenidos através da prática esportiva adequada: como a má postura, o estresse, e a dificuldade para dormir. Outros gatilhos devem ser averiguados durante uma consulta médica, desde alimentos desencadeadores de crise, até perfumes, hábitos de vida e também questões hormonais. 

Quando não adequadamente tratada, a enxaqueca crônica pode levar ao uso abusivo de analgésicos, outra condição que contribui com a cronificação de dores em geral, além de consequências graves para a vida cotidiana: perda de produtividade no trabalho ou nos estudos, redução da libido, e até o prejuízo financeiro, devido ao afastamento das atividades laborais.

Além disso, precisamos pontuar sobre a associação da inatividade física com o impacto em distúrbios psiquiátricos comumente associados com a enxaqueca. Uma análise transversal de um estudo brasileiro importante chamado ELSA-Brasil, computou a associação entre cefaleias primárias (ICHD-2) e depressão e ansiedade, evidenciando que existe sim interação entre os níveis de atividade física (inativo, insuficientemente ativo, ativo e muito ativo no tempo de lazer e no deslocamento) com a enxaqueca e a cefaleia do tipo tensão.

Durante uma crise de enxaqueca, o exercício pode levar ao aumento da intensidade da dor, sendo considerado um vilão, porém é justamente nos períodos sem dor, que a prática de atividade física não deve ser esquecida.

Considerar a ida para a academia como um tratamento profilático é uma dica importante que costumo dar no consultório e, quando seguido regularmente, as melhorias são percebidas em diversos sistemas do nosso corpo”

Maria Clara Carvalho, Neurologista.
Especialista em dor e membro da Associação Brasileira do Estudo da Dor

Por Maria Clara Carvalho – Médica pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Neurologista pela Santa Casa da Bahia. Especialista em dor e membro da Associação Brasileira do estudo da dor

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